Vampiro - A Máscara
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Luz e Sombra

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Mensagem por Mestre do Jogo Sex 10 Set - 16:11

Vamos explicar algumas coisas... apesar da minha natureza sobrenatural, há muitos mitos acerca do que eu posso, e do que eu não posso fazer... coisas que os humanos normais inventaram através dos séculos, desde idéias ridículas, até algumas próximas da verdade... eu de fato não sei como tudo isso começou. Só o que posso supor é que alguns de nós, deixaram registros sobre as mudanças que gradativamente sofremos ao longo de nossas transformações, e estes registros devem ter sido perdidos de alguma forma, e encontrados por outros humanos. Há também a possibilidade de que os pontos verdadeiros sobre o nosso mito tenham sido catalogados por humanos que nos observaram das sombras, ou que conviveram conosco e depois fizeram os registros, mas estas são duas hipóteses tão remotas que eu só as menciono porque não gosto de acreditar que não há nada infalível no mundo... sempre haverão possibilidades, então, também pode ter sido uma destas causas... mas já estou me alongando no assunto... vamos ao que interessa.

Alho... você acredita que eu já vi filmes onde o mero contato do alho com a pele de um vampiro, faz ela queimar? Mas, por mais estranho que pareça, este que é um dos mitos mais ridículos sobre os vampiros, tem um fundo de verdade... o alho, de fato, nos afeta de certa forma. Não o contato com ele, isso eu posso garantir... eu poderia ser um vendedor noturno de alhos e a única conseqüência pra mim deste ato seria ficar empesteado com o seu cheiro... o contato do alho com minha pele, não gera nenhum desconforto. Posso também comer qualquer comida que tenha sido temperada com alho, que nenhum mal me acontece. Para me ferir, o alho tem que ser inserido diretamente na minha corrente sanguínea. Não sei dizer o motivo desta questão, mas suponho que o alho possua substâncias químicas que afetam meu sistema circulatório... não chega a ser fatal, se for utilizado numa medida, digamos, normal. Ao entrar no meu sistema, o alho começa a fazer com minha pele pareça estar pegando fogo... um calor insuportável começa a se alastrar rapidamente por meu corpo, e a dor é tão grande que fica extremamente difícil me concentrar em qualquer coisa, até que ele seja expelido pelo suor que escorre por meus poros. A água que compõe este suor, não é a água normal, pois não bebo líquidos que não o sangue... e é exatamente dele que provém esta água, que se separa do sangue, e assim, diminui seu conjunto, o que por conseqüência, me deixa também muito fraco. Acredito que uma dose elevada de soro de alho seria o suficiente para enlouquecer-me, ou simplesmente matar-me... mas, quem hoje em dia anda com um litro de soro de alho à tira-colo?

Cruzes, rosários, bíblias e qualquer outro objeto sacro... balela, nenhuma destas coisas me fere. A fé foi muito valorizada nesta história toda... acredito que esta tenha sido uma das conseqüências do tempo da Santa Inquisição Espanhola, que tratou de inventar mil e uma mentiras para justificar seus assassinatos, na sua santa missão de eliminar seus inimigos de forma sistemática. Eu não sou um filho de Satã, embora possa adorá-lo, assim como também posso adorar a Deus, eu tenho livre arbítrio para fazer o que mais me convir. Até entendo que minhas características possam ter colaborado para que o mundo visse a imagem do vampiro como o de uma criatura infernal, mas acredite, você não deve julgar um livro só pela capa, seria um tremendo engano.

Dormir em caixões, dormir de cabeça pra baixo como os morcegos, dormir enterrado... na minha opinião, estas são as lendas mais risíveis de todos os tempos a meu respeito. Caixão? Confesso que eu já fiquei curioso certa vez por saber quem foi o estúpido que teve uma idéia tão estapafúrdia quanto esta... acho que são precisos muitos anos de idiotice acumulada para pensar em algo assim, mas enfim. Dormir de cabeça pra baixo, fora de cogitação, além de desconfortável, eu certamente correria o risco de cair do puleiro e dar de cara no chão, então, não, obrigado. Dormir enterrado... acho que não preciso nem comentar, não é? Primeiro: quem me enterraria, já que não posso revelar minha natureza a ninguém? Ou você pensa que existe algum tipo de tele-enterro?

Luz do sol... essa sim, 100% verdade. Minha pele não é capaz de suportar a radiação solar. Quando exposta ao sol, ela começa a encher-se de bolhas que logo se arrebentam em feridas pustulentas, e vão pouco a pouco se queimando ainda mais, até a carne começar a necrosar. Exposição prolongada... com isso eu quero dizer uns... 45 minutos, talvez uma hora, pode me afetar de forma irreversível, tornando impossível a minha sobrevivência. Protetor solar, roupa de mergulho e capacete, e qualquer outra imbecilidade destas não adiantam também, o que me afeta não é a luz, é a radiação... e eu sou um ser notívago, você que é um animal diurno, já tentou ficar acordado 24 horas direto? É possível de ser feito, mas você fica um caco no processo... comigo não é diferente.

Estaca no coração... é um incômodo. O coração é a bomba que faz o sangue circular pelo corpo, uma estaca atravessando-o dificulta este trabalho, até ser removida e enfiada na testa de quem a colocou lá, então é melhor não tentar fazer uma besteira destas comigo, ou quando perceber que a estaca não me mata, nem me imobiliza, já pode ser tarde demais. O ferimento vai me deixar fraco por um tempo, até que ele se cure.

Prata... mesma coisa que o alho... contato externo não me causa o menor incômodo, mas uma vez dentro de meu organismo, a dor é como se tivesse engolido ácido sulfúrico, a quantidade necessária para tornar o efeito fatal é menor em relação ao alho.

Fogo... eu posso ser morto por fogo, dependendo da minha exposição a ele. Me ofereça um cigarro, que lhe agradecerei com tapinhas nas costas, especialmente se forem os da marca que eu fumo. Me convide para um churrasco, e me oferecerei para ser o churrasqueiro. Me banhe com gasolina e jogue um fósforo sobre mim, que eu morrerei carbonizado como qualquer idiota encharcado de gasolina.

Capacidades físicas... tanto nos livros, quanto nos filmes, os vampiros são retratados como criaturas super-fortes, capazes de correrem tão ou mais rápido que carros, levantar centenas de quilos sem se afetar, farejar odores a milhas de distância, escutar uma agulha caindo do lado de fora de uma sala trancada, etc, etc, etc. Fatos estes que foram largamente exagerados. Se eu tivesse todos estes poderes, você acha realmente que eu não seria uma celebridade milionária, como um campeão de boxe, ou do futebol americano, ou qualquer outro esporte que paga milhões pros melhores do mundo?

Vamos por partes... força de dez homens... eu sou um cadáver, quase um cadáver normal, não fosse alguns dons especiais que recebi após me tornar um vampiro. Eu não assimilo a dor por impacto como os humanos normais, pancadas como murros, chutes, etc, me derrubam, como derrubariam qualquer outra pessoa, o diferencial é que eu não sinto a dor com a mesma intensidade que um humano sentiria. Também não sou à prova de balas, ou facadas... qualquer ferimento que me faça perder muito sangue, é capaz de me matar.

Erguer pesos incríveis... é outra capacidade ligada à força, eu não conseguiria erguer um carro sobre minha cabeça, mesmo que tentasse durante a eternidade (o que não seria um problema). Para erguer pesos consideráveis você precisa ter uma massa corporal bem preparada, ou seus ossos e tendões se romperiam com o esforço, e na minha condição de cadáver, não tenho como desenvolver mais músculos do que aqueles que já possuía quando era vivo.

Correr como o vento... claro... vamos apostar uma corrida de 100 metros, eu à pé e você de carro... quando você tiver percorrido 25 metros, me verá pelo retrovisor, correndo como um louco, e ficando cada vez mais pra trás. Eu corro mais rápido do que uma pessoa normal? Certamente que sim, mas não na velocidade absurda que me atribuem. Eu posso correr no mesmo ritmo que um campeão olímpico de cem metros rasos corre, mas há limites físicos a serem observados. Por não precisar respirar, eu consigo manter uma resistência sobre-humana, isso me permite exercer esforços físicos prolongados, sem me cansar, desde que eu esteja bem alimentado, pois para mim, o sangue, é como o combustível para um carro... enquanto ele estiver num bom volume dentro de mim, posso “queimá-lo” tranquilamente para fazer o que quiser, mas conforme ele se esgota, minhas energias se vão com ele.

Também por não precisar respirar, eu posso passar dias sob a água, ou sem inalar gases tóxicos, o que ao contrário do que se poderia imaginar, não é uma vantagem tão grande assim, já que como eu vivo entre os humanos, e eles respiram, eu preciso me lembrar constantemente de imitar a respiração, para não ser notado pelos humanos... é realmente algo bem chato ter que se lembrar disso por tanto tempo, mas com o passar dos anos você acaba se acostumando... ah sim, eu preciso me lembrar também de piscar.

Ah sim... me lembrei de mais duas coisas que são geralmente atribuídas aos vampiros... minha cor. Eu não tenho a cor branca e cadavérica como costumam me pintar. Mas também você nunca me verá bronzeado. Por ser uma criatura de hábitos noturnos, e não poder me expor ao sol, minha pele tende a ser clara, mas só até o mesmo ponto de um homem normal que trabalha 08 horas por dia, sai do trabalho e vai direto pra casa, sem dar muitas voltas pela rua.

Me transformar em lobo, morcego, rato, vapor, etc... eu falei que dormir em caixões era o mais risível sobre os mitos relacionados a vampiros...?

Mas eu tenho o poder de controlar os animais, desde que eles sejam meus por alguns anos...

Também não tenho capacidades telepáticas, nem sei sair por aí hipnotizando as pessoas... a menos que eu faça um cursinho intensivo de hipnotismo... quem sabe um dia eu o faça? Tempo eu tenho de sobra.

Obviamente, eu não saio por aí divulgando o que posso e o que não posso fazer, afinal, o medo é uma arma poderosa. Se alguém deixa de me ameaçar quando mostro meus caninos crescendo sobrenaturalmente até ficarem prontos para dilacerar seus pescoços e sugar seu sangue, e sai correndo com medo de ser estraçalhado, quem sou eu para desmenti-lo?

Quer saber mais sobre mim? Tudo bem, eu tenho tempo, e você tem sangue...
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Luz e Sombra Empty A Cavalgada Infernal

Mensagem por Mestre do Jogo Sex 10 Set - 16:12

Amanhece em Vancouver. Por trás das montanhas aparecem os primeiros raios de sol, tingindo os cumes nevados de laranja. O orvalho da madrugada escorre pelas folhas das árvores e das plantas, pingando no chão que exala o cheiro de terra molhada enquanto as andorinhas fazem suas revoadas matinais em busca de comida. Uma leve brisa benfazeja agita as folhas dos galhos mais altos das árvores, ao fundo é possível ouvir o som do despertar da cidade.

As pessoas começam a deixar suas casas para mais um dia de trabalho, numa manhã agradável de outono. Casacos, jaquetas e cachecóis são retirados dos armários para proteger seus donos do costumeiro frio que antecede o relativo calor da tarde. Mães se despedem dos filhos que vão para suas escolas, maridos beijam suas esposas antes de irem para os escritórios, cachorros devoram o jornal que repousa no gramado de entrada das casas. Um típico dia de Vancouver.

Um par de olhos pisca uma, duas, três vezes. O som estridente do despertador preenche facilmente o pequeno apartamento quarto e sala. A mão letárgica é levada até o rosto, o dedão e o indicador passam de fora pra dentro sobre as pálpebras fechadas, até se unirem no nariz do homem estirado sobre o colchão da cama. O braço esquerdo move-se para fora da cama até os dedos tateantes tocarem no pequeno criado mudo de madeira, procurando pelo despertador até encontrá-lo e segurá-lo na mão, arremessando-o contra a parede em seguida, fazendo-o em pedaços.

O homem resmunga mais duas vezes, remexe-se um pouco na cama sobre os protestos das molas do colchão que rangem irritantemente, até ele sentar-se sobre o colchão, plantando os pés descalços no piso frio de madeira. Ele fica alguns segundos e silencio, se espreguiça longamente e tira da gaveta do criado mudo uma carteira de cigarros e um isqueiro de metal prateado. A mão direita passa pelos cabelos pretos e despenteados, um cigarro é retirado da carteira e colocado na boca enquanto a mão esquerda acende a chama do isqueiro e queima a ponteira de fumo. A primeira tragada é longa, demorada, até os pulmões encherem-se com a fumaça cinza que é expelida em seguida pela boca e nariz e sobe espiralada em direção ao teto do quarto.

Ele levanta-se da cama, o ar gelado entra pela janela semi-aberta e percorre seu corpo nu, fazendo os pêlos de sua nuca e ante-braço se eriçarem. Ele caminha lentamente até o pequeno bainheiro, que fica ao lado da cozinha modesta. O cigarro balança molengamente nos lábios a cada passo. Ele se alivia e puxa a descarga, jogando o cigarro na privada, até ser engolido pelo turbilhão de água e desaparecer. Em seguida volta-se para o espelho sobre a pia, mirando seu reflexo por alguns instantes. Ele abre a torneira e joga um pouco de água pelo rosto, esfregando-o com as mãos.

A campainha estridente do telefone soa, ele deixa o banheiro e vai até a geladeira na cozinha, abre a porta e retira de seu interior uma lata de cerveja, abrindo-a e tomando um gole longo. O telefone ainda toca, o homem vai até ele, com a lata de cerveja na mão. Senta-se na cama e retira o fone do gancho.

- Pronto?

- Danniel, por Deus, você ainda está em casa?

- O que você acha? – responde ele, para Frank do outro lado da linha.

- Recebemos denúncia sobre um assassinato, precisamos de você.

- Onde? – pergunta ele, retirando mais um cigarro do maço, e acendendo-o em seguida.

- Na Ridgway Avenue, 1400.

O cenho do detetive fecha-se automaticamente ao ouvir o endereço, a cinza se desprende do cigarro e cai no chão, desmanchando-se.

- Não ferra, Frank.

- Vê se você não ferra, Danny. A delegada vai estar de olho.

- O juiz já expediu o mandado?

- Ainda não, você só pode ir lá, ver o corpo e mais nada. A ordem de afastamento contra você continua valendo, até que o velho Murray emita o mandado de busca.

O homem resmunga impaciente ao ouvir sobre a ordem de afastamento.

- Quem é o presunto?

- É uma garota, trabalhava na empresa, uma gata... levaria 8 na minha contagem.

- Qualquer vagabunda de quinta levaria isso na sua contagem, Frank. – responde ele, com escárnio

- É... está bem... veja se não vai fazer nenhuma besteira, e não chegue lá bêbado, está me ouvindo?

A pergunta recebe como resposta apenas o “click” seco do fone sendo recolocado no gancho.

Danniel termina de fumar o cigarro, ainda sem levantar-se da cama, os olhos vidrados, enxergando além do papel de parede para o qual estavam voltados, enquanto sua mente percorria as lembranças de uma noite chuvosa de alguns anos atrás:

Um homem corre apressado pela viela escura. Seus passos fazem ecoar o som das águas da chuva que formam poças pelo chão. O terno italiano pesa pela água infiltrada em suas fibras, sob o terno a camisa molhada pela chuva e pelo suor. O coração bate acelerado, os olhos arregalados, desesperados.

- Alguém me ajude! Socorro! – o pedido não recebe resposta, as palavras arranham a garganta antes de saírem pela boca extremamente seca.

Ele tenta pedir ajuda para alguns funcionários de comércio que levam o lixo para os fundos dos estabelecimentos, mas ninguém o ajuda... ignoram ou trancam-se novamente dentro dos prédios.

- Me ajudem!!!

Em pânico ele procura algum jeito de se esconder… mas não há onde se esconder. Não há porta destrancada, escada de incêndio baixada, nenhuma tampa de esgoto disponível, nada. Então o beco chega ao fim na parede de tijolos coberta de pichações miseráveis. As mãos batem contra a parede desejando que ela desabe e abra caminho. Os pulmões queimando pela corrida desenfreada, a respiração ofegante, e só então elas vêem... assim que escutam o som daqueles passos novamente, elas vêem... assim que ouve aquela voz novamente, elas vêem.

- Fim da linha, Ike. – quentes elas vêem, aos borbotões, incessantes, as lágrimas lavam seu rosto, misturando-se com o suor e com a chuva.

- Por favor, eu não tive nada a ver com aquilo, eu tentei impedir, eu juro. – as súplicas se repetiam como um mantra interminável.

- Então por que não impediu, Ike?

A mente trabalha a mil por hora, buscando raciocínio, tentando juntar idéias, alguma coisa que pudesse justificar uma resposta.

- Foi o Eddie, foi ele. Ele foi o culpado! – os olhos prestes a saltar das órbitas quando vêem o homem sacar a pistola e rosquear o silenciador.

- Por favor.... por favor...

- Você sabe rezar, Ike? Eddie sabia...

- Não... escute, escute... eu posso concertar, eu posso desfazer tudo, eu posso, só me dê a chance de fazer isso. – as forças se vão e os joelhos cedem, fazendo-o cair no chão, agarrando-se na última esperança que lhe resta.

- Você pode ressuscitar os mortos, Ike? Hãn? Você pode??? – questiona a voz, gritando cheia de ódio, olhando nos olhos do alto executivo a dois palmos de distância ajoelhado no chão.

- Responda a pergunta!!!

- Não... eu não posso, eu não...

- Então pra que você serve?

No dia seguinte o fato estampou a primeira página dos maiores jornais da cidade: “Executivo da empresa de previdência privada Sunshine, acusada de aplicar golpe milionário em milhares de clientes, é encontrado morto em beco de Montreal.” As investigações não dão em nada, o caso é tratado como latrocínio já que a carteira, relógio e demais pertences foram roubados. É fácil forjar um latrocínio quando se sabe como funcionam os procedimentos investigativos da força policial.

Quatro meses atrás o pai de Danniel havia metido uma bala na própria cabeça. As coisas não estavam muito bem desde seus últimos dias na antiga madeireira. Mas o velho Jacob nunca teria feito aquilo se ainda enxergasse alguma esperança. Jacob sempre foi um homem religioso, temente a Deus, ia à igreja todos os domingos, com a esposa e filho. Mas Deus foi duro com Jacob, primeiro com o câncer que levou Marie, depois o antebraço perdido no acidente na madeireira... depois vieram o alcoolismo e a depressão, Jacob atingira o fundo do poço. O filho tentava animá-lo das formas como podia, era um cara de bem, Detetive na polícia de Montreal, o orgulho da família, mas nem isso conseguia tirar Jacob daquela queda incessante.

As contas não paravam de chegar. O banco executou a hipoteca depois que as prestações atrasaram seis meses. A casa onde viveu com Marie e onde Danny nasceu foi vendida para em seguida ser demolida e dar lugar a um dos novos estacionamentos da cidade. A assistência social que recebia do governo mal dava pra comer e pagar o aluguel daquela espelunca pra onde teve que se mudar. A única esperança era resgatar os fundos depositados na conta de aposentadoria privada que ele fizera anos atrás quando o milionário Eddie Irons fundou a Sunshine Previdência.

A quantia de dinheiro depositada daria pra comprar uma boa casa, pagar um bom tratamento psicológico, trazer o velho Jacob de novo à vida. Mas assim como milhares de outros clientes da Sunshine, Jacob recebeu a notícia de que suas economias depositadas fielmente durante anos, havia sumido, virado pó, embolsado pelo velho Sr. Irons, que junto com os demais membros de seu conselho deliberativo, raspou as contas da Sunshine, abrindo um tremendo rombo em suas contas e decretando a falência da empresa.

Perdido, e sem esperanças em mais nada, Jacob Ocean trocou o dinheiro da assistência social por uma arma e uma garrafa de whisky. Voltou pra casa, era uma quarta-feira como qualquer outra. Subiu as escadas até seu quarto, colocou o único terno que tinha, calçou os sapatos, e sentou-se na cama, desembrulhando a pistola do papel marrom, colocou o cano dela contra o céu da boca, e com um click abafado deixou esse mundo, e um filho órfão pra trás.

Danniel foi o primeiro a encontrar o corpo, foi ele quem cuidou dos preparativos pro funeral modesto, em casa, poucas pessoas... o padre não compareceu. Danniel esperou pelo processo judicial contra a Sunshine, como um bom policial seguidor das leis. Enfrentou todos os caminhos jurídicos durante todo o andamento do caso, até que a justiça deu o veredicto final, inocentando a Sunshine. Então ele resolveu instalar um novo processo, mas dessa vez ele seria o juiz, o júri e o executor.

Usou seu tempo ocioso pra levantar provas contra a Sunshine, não para tentar incriminá-la novamente, mas pra saber exatamente quais de seus executivos estavam por trás do golpe. Ao contrário da justiça normal, Danny não iria condenar os inocentes, era preciso ter certeza de quem era culpado. Levou algum tempo, mas enfim ele conseguiu... a lista toda. Todos os culpados... nomes, endereços, contas bancárias, cada detalhe. Três morreram no naufrágio do iate. Dois foram vitimas de acidentes de trânsito causado por falhas mecânicas em seus carros. Um de choque anafilático causado por intolerância a frutos do mar que ingeriu na salada sem saber.

Uma maldição parecia ter tomado conta dos ex-executivos da Sunshine. Eddie e Ike passaram a sair nas ruas apenas se estivessem cercados de seguranças. Viviam trancados em suas mansões, prisioneiros de suas próprias casas. Tudo era entregue por encomenda. Comida, charutos, bebidas, prostitutas. Eddie morreu de overdose de heroína. Ike não tinha o mesmo vício, mas não estava mais agüentando ficar recluso, ele precisava de ar fresco, tinha que circular, tinha que esquecer aquela loucura toda... Não foi difícil pegá-lo no banheiro do jóquei-club desacompanhado e jogá-lo pela janela para dar-lhe a falsa chance de escapar.

Ao chegar em casa no dia da condenação de Ike, Danny revista sua carteira. Foi a primeira vez que ele leu o nome Edward Shaw, num cartão. A segunda foi num dos e-mails enviados pelo smartphone de Ike, contendo o número de uma conta bancária no nome de Shaw, uma conta de Vancouver. Então um deles havia escapado... Danny aguardou a hora chegar, tinha que dar um jeito de ser transferido para Vancouver, e que melhor oportunidade do que jogar pela janela um Senador pedófilo que mandou encobrir o caso do assassinato do parceiro de Danny? O Detetive conseguiu a transferência em troca de sigilo, Senadores casados não costumam apreciar escândalos, especialmente em anos eleitorais.

...

- Ridgway Avenue, 1400. – repete ele baixinho, havia algo de mal em sua voz

- Shaw’s Genetic & Research... – os olhos estreitam-se num misto de ódio e algo mais.

Em instantes o Charger RT 1970 preto ganha as ruas da cidade, rasgando o asfalto com seu demônio particular trocando as marchas por trás do volante...
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Mensagem por Convidado Sex 10 Set - 16:32

MUITO BOM!!! QUERO LER A CONTINUAÇÃO...
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